quarta-feira, 11 de maio de 2011

WikiLeaks e a Transparência das Democracias

   A função principal deste blog é avaliar o desempenho dos governos democráticos e suas ações através de ferramentas como a internet, no sentido de atuação destes referidos governos ao lançar mão, voluntariamente, de tal aparato comunicacional. O blog Governo Eletrônico propõe-se a avaliar direcionalmente a iniciativa governamental de uso das ferramentas tecnológicas, para o fortalecimento da democracia e o aumento do contato entre governo e população.  Entretanto, desta vez, colocamos em pauta uma situação antagônica a essa democracia digital praticada voluntariamente pelos governos, e os segredos por eles escondidos. Para trazer à tona os fatos dos bastidores da diplomacia mundial eis que surge o WikiLeaks.


    Apesar da semelhança no nome, o WikiLeaks não tem vínculos com a Wikimedia Foundation, segundo consta em sua página de descrição na Wikipedia, é uma organização sem fins lucrativos e possui sede na Suécia. Seu fundador Julian Assange concentra em sua imagem os méritos, as críticas e os escândalos que envolvem o WikiLeaks.
A seguir, transpusemos as entrevistas cedidas pelos deputados europeus Christian Engström  (Verdes/Aliança Livre Européia), membro do partido pirata na Suécia, e Eduard Kukan (Partido Popular Europeu), ex-ministro dos negócios estrangeiros eslovaco.

No ano passado, o partido pirata decidiu colocar servidores à disposição do WikiLeaks. Não o considera um sítio perigoso?


Christian Engström: Claro que sim, consideramo-lo perigoso, sobretudo para os regimes corruptos, que têm coisas a esconder. É exactamente disso que nós gostamos. A transparência é muito importante para uma governação democrática. A tendência para camuflar existe em todo o lado. Mesmo um governo democrático como o norte-americano não quer revelar à opinião pública alguns dados, extremamente pertinentes. Sim, o WikiLeaks é perigoso para todos os que detêm o poder e escondem dados.


Na sua opinião, o WikiLeaks serve o interesse geral?


Eduard Kukan: Sou a favor da liberdade de expressão enquanto fundamento dos sistemas democráticos modernos. As actividades do WikiLeaks tiveram consequências, em parte danosas. Não penso que a sua intenção tenha sido revelar elementos positivos e construtivos, não considero que tenham tido uma atitude nobre nem respeitosa. Passei 30 anos na diplomacia e alguns dos problemas não têm de ser revelados a todos. É necessário criar um clima de confiança com os parceiros e aquilo que se prepara deve, por vezes, manter-se discreto. Alguns acordos e negociações podem deixar de ser firmados na sequência da revelação de documentos.


Há quem defenda que a transparência reforça as democracias. O WikiLeaks fez progredir a democracia no mundo?


Christian Engström: Sim, em grande parte porque a transparência é um dos elementos fundamentais da democracia. Para quê autorizar as pessoas a votar se, depois, não são informadas sobre o que o governo e a oposição fazem? Em democracia, os cidadãos devem fazer escolhas esclarecidas. O objectivo global do WikiLeaks é mostrar a todos os governos que não conseguirão mentir nem esconder determinados dados. Os governos vão começar a ser mais transparentes e honestos, como consequência indirecta do WikiLeaks.


Eduard Kukan: As publicações tiveram aspectos positivos, particularmente notórios em relação aos regimes ditatoriais. Não condeno tudo o que foi publicado mas temos de diferenciar aquilo que contribui para a liberdade de acesso à informação daquilo que pode colocar em perigo as relações pessoais entre políticos e homens de Estado.


Quem deveria então decidir o que pode e o que não pode ser revelado? Os dirigentes do WikiLeaks, os diplomatas, os políticos?


Christian Engström: Nenhum deles. Os dirigentes do WikiLeaks diriam a mesma coisa: aquilo que eles querem, aquilo que eu quero, é que haja muito mais sítios na Internet que orquestrem as fugas de documentos oficiais de forma segura. Se só existir um, teremos de estar atentos ao que faz com o seu poder. Se existirem vários, o problema desaparece.


Eduard Kukan: Os membros do WikiLeaks devem saber o que pode ser do domínio público e o que tem carácter secreto. Os critérios precisos, no meu entender, deveriam ser definidos pelos dirigentes políticos. Penso que seria um bom tema para um referendo: as ideias dos dirigentes são por vezes rejeitadas porque as pessoas não as compreendem mas com o tempo a história demonstra que tinham razão.


Qual poderá ser o impacto das « fugas WikiLeaks » na estrutura das relações internacionais e na forma como os diplomatas agem?


Christian Engström: O mundo, simplesmente, mudou. Todos os governos, embaixadas e detentores de poder devem saber que é muito mais difícil manter as informações secretas. É um dado positivo, particularmente para as relações entre os países. Queremos mais transparência. Cria um clima de confiança e reduz os riscos. Os grandes actores mundiais tendem a ser mais desconfiados quando não sabem aquilo que os seus homólogos prevêem. Era a lógica da Guerra Fria. A transparência vai ajudar a aliviar as tensões internacionais a longo prazo e iremos assistir à emergência de um mundo mais estável.


Eduard Kukan: Vai afectar as relações diplomáticas de forma negativa. Os que foram citados serão muito mais prudentes e menos abertos. Concordo, portanto, com quem considera que as revelações do WikiLeaks irão mudar as relações diplomáticas e a vida política mundial.


Entrevista cedida ao "Parlamento Europeu".




Nenhum comentário:

Postar um comentário